18 de dezembro de 2012


Por incrível que possa parecer, hoje 18 de Dezembro de 2012, já faz 5 anos, parece que foi ontem que tudo mudou, que a minha vida teve uma grande reviravolta, lembra-me como se tivesse acontecido ontem, o que a memória insiste em não esquecer, em não apagar.
Mas ainda bem que assim aconteceu, porque não quero esquecer de nenhum pormenor, quero lembrar-me sempre disto ou pelo menos durante muitos anos.
Doí o coração e a ferida continua aberta por ter acontecido. Fomos muito fortes Mãe, nem sabíamos que certamente seriamos assim tão fortes e tão corajosas para passar por tudo aquilo. Saber até sabíamos, mas ainda não tínhamos sido assim tão testadas pela vida.
Fomos mulheres com um “M” muito grande. Sabes, tenho muito orgulho em ti e em mim também por ter conseguido fazer tudo o que fiz e não me arrependo de nada. Se fosse hoje voltaria a fazer tudo igual, sem pensar duas vezes.
Agora somos felizes, passados 5 anos, muito mais felizes e livres, merecemos a felicidade, uma ao lado da outra.
Passamos por momentos muitos difíceis. Sinto orgulho em ti, por teres sido e seres a grande MULHER da minha vida. Passares o que passaste e continuares na minha vida e forte, sempre com a cabeça erguida e com um sorriso mesmo que as vezes seja difícil.
Sempre tiveste uma vida difícil e ainda aguentares um homem durante 17 anos sempre sujeita a violência doméstica e principalmente controlada toda a vida em tudo o que fosse.
Nunca foste devidamente valorizada e principalmente amada e feliz, ainda bem que sempre consegui estar ao teu lado e a altura da situação.
Cada nódoa negra, cada bofetada, cada grito, cada situação que aquele homem te fez passar são todas cicatrizes difíceis de sarar mas irão sarar, quando a justiça se fizer e vier ao de cima.
São coisas que não se conseguem esquecer mas eu acredito que vamos, as duas, lado a lado, conseguir esquecer tudo o que passamos, o que nos aconteceu e sermos muito felizes.
Sabes se aconteceu, foi para nos testar e mostrarmos que somos fortes e que conseguimos ultrapassar tudo.
Mas custa tanto viver este dia, 18 de Dezembro, por mim, e acredito que também por ti, riscava este dia do calendário. É um dia em que tudo bem a memória, tudo se lembra e que abre novas cicatrizes, principalmente por a justiça não se ter feito, é a justiça portuguesa.
Cada hora, cada minuto e cada segundo daquele dia vem a memória, coisas que insistimos em esquecer.
Sabes, aquele homem, como nem assim se pode tratar, é o meu pai, sinto vergonha por ele ter sido o homem que foi contigo e comigo, e tudo o que nos fez passar. Mas ainda acredito que um dia a justiça se fará, tarda mas acontecerá.
Uma mulher, seja a mãe, a mulher ou a filha não merece viver e estar sujeita a nodoas negras, a bofetadas, a berros, a uma mão levantada e a um pontapé dado.
Tudo começa com uma bofetada e um pedido de desculpas, e pode acabar num hospital ou na morgue. A mulher não deve permitir que um homem lhe levante uma mão para lhe bater. A mulher não deve ser tratada assim nunca, os homens devem aprender a respeitar e valorizar as mulheres.
A mulher merece respeito. Deve denunciar! Fazer alguma coisa! Hoje pela vizinha, amanhã por nós.
Foi isso que eu fiz, com apenas 14 anos, era menor mas não foi impedimento, denunciei, lutei pelos direitos da mulher da minha vida, Mãe, e também pelos meus direitos.
A minha mãe não merecia viver daquela maneira. Merecia uma vida melhor.
Denunciei, apresentei queixa, fiz o meu depoimento, foi a tribunal, a minha vida, a nossa vida, deu uma volta de 1000º mas lutei pela vida da minha mãe e pela minha. Cada vez que me lembro daquele dia, dá-me uma revolta por não ter existido justiça suficiente para te condenar pelo o que fizeste.
Mas ainda acredito que um dia haverá justiça, e que tu, pai, irás pagar pelos teus erros.
Apesar de me teres dito na minha cara que não eras meu pai, foste tu que ajudaste a que eu nascesse, por isso devo pelo menos o respeito e a educação que a minha Mãe me deu.

Mas agora, Mãe, agora sim, somos muito mais felizes e livres.
Amo-te muito mulher da minha vida.
Iremos sempre contar uma com a outra.


E tu, pai a justiça irá acontecer, sabes tantas pessoas
boas a morrerem, e tu a continuares a fazer as tuas ‘porcarias’,
não acredito que Deus anda a dormir e tão distraído.
Pode tardar mas irá ser mais cedo do que todos pensamos.




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